'Já não sentia meus pés', diz caminhoneiro que ficou preso em nevasca na Cordilheira dos Andes

O Fantástico traz o relato de brasileiros que ficaram três dias presos em uma estrada que liga Argentina e Chile. Com - 18ºC, as pessoas precisaram dormir em carros, ônibus e caminhões até serem resgatadas.

'Já não sentia meus pés', diz caminhoneiro que ficou preso em nevasca na Cordilheira dos Andes

Tudo ia bem, até que a paisagem foi ficando cada vez mais branca. Os telhados cheios de neve alertavam: caía muita neve no alto da montanha.

Uma estrada que liga Argentina e Chile é um emaranhado de curvas na região de Paso Internacional Los Libertadores, na Cordilheira dos Andes. Nevava muito quando acidentes bloquearam o trânsito, nos dois lados da fronteira.

Uma fila de caminhões se formou. Carros e ônibus de turismo também ficaram presos. O tempo piorou ainda mais e uma nevasca castigou a rodovia no sábado, dia 9. A temperatura chegou a - 18º C.

No lado chileno, a mesma angústia. Com o caos nos dois lados da fronteira as autoridades decidiram fechar a estrada.

Um ônibus com um grupo de turistas brasileiros ficou preso no topo da montanha, na alfândega chilena. Ivonei Grolli, um dos caminhoneiros que ficaram presos no meio da nevasca, contou ao Fantástico o que passou.

 

“Eu fiquei dentro do carro até no domingo umas duas horas da tarde. O caminhão estava ligado, o ar quente estava ligado, e bastante cobertor e roupa para se proteger, porque não dava nem para descer da cabina. É muito vento forte e muita neve, então foi complicado”.

 

Ele e outros motoristas tiveram que ser resgatados. Muitas famílias também precisaram ser socorridas.

O caminhoneiro Juarez de Lima contou que passou mal.

 

“Ficamos sábado a noite inteira, domingo o dia inteiro, e quando foi domingo de tarde já comecei a me sentir ruim por causa do ar. Começou a ressecar, já não tinha mais água para tomar, daí fui pedir socorro. Eles falaram que uma hora da manhã eles iam vir nos buscar. Cheguei ao alojamento eram seis horas da manhã. Eu já não sentia meus pés, as mãos, as unhas estavam pretas”.

 

Juarez está alojado em uma escola transformada em abrigo, na cidade chilena de Los Andes, perto da fronteira.

Caminhoneiro brasileiro fica retido em nevasca na Cordilheira dos Andes — Foto: Thiago Massari

Caminhoneiro brasileiro fica retido em nevasca na Cordilheira dos Andes — Foto: Thiago Massari

O comandante chileno do resgate conta que as primeiras 24 horas foram decisivas para retirar primeiro quem não tinha comida ou pouco combustível. As autoridades informaram que mais de 1,2 mil pessoas foram resgatadas dos dois lados da fronteira. E quase mil veículos ficaram presos na nevasca.

Segundo a Associação Brasileira de Transportadores Internacionais, trafegam pela Rodovia Paso Internacional Los Libertadores até 1,5 mil caminhões por dia. A via é uma ligação importante de comércio internacional do Brasil com a Ásia, pelos portos chilenos.

O governo do Chile disse que vai investigar se houve erro no controle do tráfego durante a nevasca. A previsão é que pare de nevar a partir de segunda-feira (18) na região.

 

Fonte: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/07/17/ja-nao-sentia-meus-pes-diz-caminhoneiro-que-ficou-preso-em-nevasca-na-cordilheira-dos-andes.ghtml