Remédios usados para ansiedade e depressão podem prejudicar os dentes; entenda

Medicações têm como efeitos adversos a redução da saliva e ranger de dentes, que também são associados à sensibilidade

Remédios usados para ansiedade e depressão podem prejudicar os dentes; entenda

Medicamentos usados para ansiedade e depressão podem produzir efeitos adversos que prejudicam diretamente os dentes. A redução da saliva (boca seca) e o ranger de dentes, também chamado de bruxismo, são os principais deles.

Na bula de dois antidepressivos amplamente usados — fluoxetina e sertralina —, a chamada "secura de boca", ou boca seca, é apontada como efeito adverso comum. Na sertralina, o ranger de dentes também compõe a lista dos eventos adversos que o remédio pode causar.

 

Os ansiolíticos, como alprazolam (Frontal), clonazepam (Rivotril) e diazepam (Valium), também incluem na lista de reações a "secura de boca".

O bruxismo, por si só, prejudica a arcada dentária com o encurtamento dos dentes a longo prazo. Porém, a boca seca também é algo negativo, já que a saliva é um líquido essencial para equilibrar a acidez da boca.

"Você ter os dentes ressecados, porque a salivação está pouca, com ácido atacando os dentes e, ainda por cima, rangendo os dentes, esfregando um dente no outro, é a forma do caos", alerta o cirurgião-dentista Andreas Koren, sócio e diretor clínico da Signature Clínica Boutique.

 

De acordo com Koren, esse efeito também é potencializado pelo estresse do dia a dia e pode desencadear uma situação extremamente desconfortável: a sensibilidade nos dentes.

"Entendemos que a sensibilidade nos dentes é uma doença, não é só um desconforto, e isso acontece por causa de fatores, muitas vezes, externos", diz o dentista.

 

A principal causa da sensibilidade é a agressão ácida, que penetra no dente. Ela pode ser influenciada pelo estresse ou pelo próprio organismo.

"Existe um desequilíbrio causado por estresse que se chama microrrefluxo velado. Durante a noite, quando estamos dormindo, acabamos tendo pequenos eventos de refluxo e, ao longo de dias ou semanas, ou meses, dependendo do estresse que a pessoa está passando, a acidez da boca fica sempre alta", explica Koren.

Quando o indivíduo passa por uma fase de cobrança, de tristeza ou de preocupação, o corpo humano também passa por um desequilíbrio, que se reflete, por exemplo, na boca.

A denominada agressão ácida começa a alterar a gengiva e a estrutura do osso em volta dos dentes, diminui a produção de saliva e aumenta o ressecamento dos dentes.

Essas situações acabam se transformando em um efeito cascata. Durante um estresse constante o estômago também produz mais suco gástrico (contém ácido clorídrico) que, em excesso, pode subir para a boca durante a noite.

"É uma bola de neve. Quando a pessoa tem uma fase só e ela se recupera, ela adquire um pouco de sensibilidade, mas não acontece mais, são fases. Só que, quem passa por isso de uma maneira muito constante, acaba desenvolvendo problemas mais graves, e a sensibilidade pode ser muito grande", relata o especialista.

Para identificar um possível aumento da sensibilidade nos dentes, estar atento à mudança de tolerância ao estímulo, também chamada de limiar de dor, é essencial.

Ou seja, o que não incomodava os dentes antes passa a incomodar, como uma bebida gelada ou um copo de refrigerante. Prevenir essa situação também impede que a pessoa chegue ao extremo e enfrente uma invalidez odontológica, que pode ser causada por dois fatores.

"A primeira [causa] é quando a pessoa já perdeu muitos dentes, por motivos quaisquer que seja na vida, não vai repondo e aí a mordida começa a bagunçar totalmente, todos os dentes começam a inclinar, começam a mudar de posição, e isso atrapalha muito", explica o cirurgião-dentista.

E acrescenta: "Outro fator que, às vezes, é um pouco mais difícil de a pessoa saber que ela tem é justamente o bruxismo em excesso. Os dentes vão se gastando demais, a pessoa acaba tendo dentes muito pequenininhos, e pode gerar uma invalidez odontológica, que reflete em problemas mais graves, mais amplos."

 

É incomum atualmente que a invalidez chegue até a falta de dentes, mas, segundo Koren, cada vez mais jovens sofrem com o bruxismo e não se dão conta que podem estar a um passo dessa situação.

Para prevenir todos esses casos, o especialista recomenda, por exemplo, para quem usa lentes de resina, observar se elas não estão perdendo o brilho ou ficando manchadas — em decorrência da ação do ácido.

A regularidade no dentista também é fundamental e pode carregar um alerta. Se a pessoa mantém os cuidados básicos, mas precisa passar por uma restauração toda vez que visita o profissional, pode ser um sinal de que há excesso de ácido na boca.

Uma mudança de dieta também pode ser importante, com a redução do consumo de alimentos mais ácidos no jantar. Existem, hoje, além de pastas de dente e enxaguantes bucais específicos para dentes sensíveis, tratamentos com laser e remédios para diminuir a sensibilidade.

As pessoas que têm de tomar regularmente ansiolíticos ou antidepressivos podem precisar utilizar sprays de saliva artificial na hora de dormir ou durante determinados momentos do dia. Contudo, essa recomendação deve ser feita por um profissional especializado.

De forma geral, todos os casos exigem o acompanhamento de um dentista, pois não basta apenas escolher uma pasta de dente diferenciada, por exemplo, deve-se agir direto na raiz do problema.

"Se você usa a pasta de dente, bochecho, para sempre, é como se você quebrasse o seu pé, torcesse seu tornozelo e andasse de muleta para sempre, você vai andar, mas não está certo, tem que tratar para você poder andar normalmente", finaliza Koren.

*Estagiária do R7, sob supervisão de Fernando Mellis.

 

Fonte: https://noticias.r7.com/saude/remedios-usados-para-ansiedade-e-depressao-podem-prejudicar-os-dentes-entenda-22122022