Verde-amarelo em disputa e pautas “invertidas” marcam 7/9 antes de julgamento de Bolsonaro

Patriotismo ou anistia? Esforços de direita e esquerda invertem pautas históricas antes de decisão sobre golpe do 8/1

Setembro 9, 2025 - 07:41
Verde-amarelo em disputa e pautas “invertidas” marcam 7/9 antes de julgamento de Bolsonaro

O presidente da República acenava do Rolls Royce da Presidência para milhares de compatriotas que acenavam com suas bandeiras verde-amarelas nas arquibancadas do desfile da Independência durante o 7 de setembro, em Brasília. Jovens usavam camisetas que formavam a palavra “soberania”, outros carregavam uma bandeira do Brasil gigante, de 140 metros quadrados, enquanto bonés com o slogan “O Brasil é dos brasileiros” eram distribuídos pela equipe do governo federal. 

À tarde uma manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, também trazia uma bandeira gigante. Mas dos Estados Unidos. Entre os manifestantes, a bandeira brasileira rivalizava com as norte-americanas e de Israel. Cartazes e discursos reverberavam pedidos como “soltem os presos políticos” e “anistia já”. Nas cabeças, e nos camelôs da avenida, os bonés tinham uma mensagem, em inglês: “Make America Great Again”, bordão de campanha do presidente dos EUA, Donald Trump.

  • 7 de setembro na Avenida Paulista, em São Paulo
  • 7 de setembro na Avenida Paulista, em São Paulo
  • 7 de setembro na Avenida Paulista, em São Paulo
  • 7 de setembro na Avenida Paulista, em São Paulo
  • 7 de setembro na Avenida Paulista, em São Paulo

“Este 7 de setembro é diferente de todos os outros que eu me lembre, pelo menos. Porque duas coisas distintas, mas combinadas, aconteceram basicamente ao mesmo tempo e ambas dialogam com essa dimensão, de fato, da pátria, né? Da nação”, afirma Ana Penido, professora do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ).

Ela faz menção, primeiro, ao julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) do ex-presidente Jair Bolsonaro, militares de alta patente e outros réus por tentativa de golpe de Estado. Não por acaso, nenhum ministro do STF, cujas presenças foram destaques na edição do ano passado do ato cívico, participou do desfile de 2025.

Segundo Penido, a conjuntura é nova e pode ter consequências nos caminhos da política internacional. “As duas coisas dizem respeito a uma lógica de olhar a distribuição de poder a nível mundial. E isso também diz respeito a como que isso vai se desdobrar nos territórios locais. Acho que esses dois fenômenos são expressões de uma capacidade organizativa grande mesmo, significativa do ponto de vista internacional, que rebate aqui dentro”, avalia. 

Por que isso importa?

  • A celebração do dia da independência marca, mais uma vez, a tentativa de Jair Bolsonaro e aliados de pressionar o STF.
  • Governo Lula aproveita data e tarifaço de Trump para defender soberania nacional de olho nas eleições de 2026.

O tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros, é o segundo fato citado pela professora. Um esforço para interferir diretamente na política brasileira e pressionar por uma anistia que beneficie o ex-presidente Jair Bolsonaro. 

A estratégia, porém, permitiu ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir a defesa da soberania nacional e, paralelamente, aumentar a sua popularidade. “A soberania pode parecer uma coisa muito distante, mas ela está no dia a dia da gente”, declarou em seu pronunciamento em 6 de setembro o presidente, que assistiu ao desfile próximo ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Ato bolsonarista em SP tem homenagem aos EUA e segue roteiro de ataques a Moraes 

No sentido oposto, com gritos de “Anistia já” e “Fora Moraes”, manifestantes pró-Jair Bolsonaro ocuparam algumas quadras da Avenida Paulista na tarde de domingo. O ato foi marcado por falas duras de aliados do ex-presidente, que cumpre prisão domiciliar. 

“O Brasil é colônia dos Estados Unidos, sim”, disse Carlos Silva, autônomo, que desfilava em São Paulo na manifestação bolsonarista no dia da independência do Brasil, com um pôster do ministro Alexandre de Moraes amarrado a um foguete de Elon Musk. Ele conta que chegou a acampar em frente aos quartéis do Exército, no fim de 2022. Silva ainda reconhece que houve tentativa de golpe em janeiro de 2023, mas acredita que parte das pessoas foi enganada por “infiltrados da esquerda”.