Como enganar o cérebro para conseguir render mais no treino

Muitas vezes treinar é mais um desafio mental do que físico

Como enganar o cérebro para conseguir render mais no treino

Todo mundo sabe que fazer exercícios é bom para a saúde, mas os benefícios nem sempre nos motivam a acordar cedo e calçar os tênis de corrida. De acordo com um levantamento feito pelo Ministério da Saúde em 2021, 48,2% dos adultos no Brasil não praticam atividade física o suficiente para manter-se saudáveis.

 

 

Muitos especialistas dizem que o segredo para treinar melhor não está no corpo, mas na mente. Afinal, quando se está na dúvida entre sair para a academia ou maratonar uma série na Netflix, você sabe que fazer exercícios físicos é importante, mas ainda precisa de um empurrãozinho.

No entanto, existem algumas estratégias para enganar cérebros preguiçosos e encontrar a motivação necessária para voltar à academia ou sair para uma corrida.

 

Jogos

 

– O cérebro adora jogos, especialmente se for algo difícil de prever ou que ofereça recompensas – diz a neurocientista Daya Grant. Você deve utilizar isso a seu favor.

O personal trainer americano Milo Bryant, por exemplo, usa uma bolsa de exercícios “surpresa” para suas aulas. Os alunos tiram da sacola um papel com o tipo de exercício e a quantidade de repetições que devem cumprir.

 

Além disso, aplicativos como Zombies, Run! (um programa fitness gamificado para estimular o usuário a correr) levam isso a outro nível. Como a maioria dos aplicativos de corrida, ele permite que você acompanhe a sua rota e o seu ritmo. Mas o interessante é como esse aplicativo transmite “missões” pelos fones de ouvido enquanto você corre, como se fosse um jogo, dizendo coisas como “Corra para evitar um zumbi!”.

 

Já o aplicativo Rouvy é capaz de se conectar a um smart trainer (equipamento de treino no qual você monta a sua bicicleta e ele oferece resistência para que você possa pedalar sem sair do lugar) para dar um passeio virtual por diferentes ruas de cidades ao redor do mundo. Você pode até mesmo ajustar a resistência da bicicleta enquanto anda pelo percurso.

Pam Moore, uma instrutora de ciclismo na cidade de Boulder, no Colorado, revela que uma vez andou de bicicleta por Beverly Hills enquanto uma amiga passeava por Portland, Oregon. Tudo isso sem sair de casa.

 

Exercícios personalizados

 

O cérebro gosta de coisas personalizadas. Em um estudo recente, atletas que acreditavam ter recebido um plano de treinamento customizado superaram aqueles que pensavam estar seguindo um plano genérico.

Os personal trainers são uma forma de colocar essa dica em prática. Você também pode usar aplicativos como o Stronger by the Day, no qual treinadores obtêm suas estatísticas de condicionamento físico (a carga mais pesada que você pode levantar, por exemplo) e produzem um programa de treinamento personalizado.

 

– Estou obcecada com isso – diz Moore – Apenas fazendo o que ele me disse para fazer, fiquei muito mais forte.

De acordo com Panteleimon Ekkekakis, psicólogo esportivo da Universidade de Michigan, as pessoas tendem a se lembrar de experiências com base em como se sentiram no final. Por isso, ele sugere mudar a ordem dos exercícios, fazendo a parte mais difícil no início, depois de um bom aquecimento, e ir diminuindo gradativamente a intensidade, para terminar a série com a melhor memória possível. Esta estratégia aumenta a sensação de prazer ao final de um treino e também melhora a maneira como você percebe o exercício.

 

 

Associe o exercício a um “hábito âncora”

 

Novos hábitos podem ser introduzidos no cérebro. Ben Reale, um personal trainer de Atlanta, aconselha associar a atividade física a um “hábito âncora”, algo que você faz todos os dias. Se você deixa os seus filhos na escola às 8h, por exemplo, pode criar o hábito de estar na academia às 8h15.

– Quando cultivamos esses hábitos de maneira consistente ao longo de várias semanas, removemos o ponto de decisão e a força de vontade da equação – explica Reale.

 

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Os mais relutantes podem precisar de um empurrãozinho extra. Pode ser vantajoso combinar o treino com uma atividade que você goste, como assistir a um episódio da sua série favorita, por exemplo.

– Mas essa combinação só funciona se você realizar a atividade enquanto faz o exercício – enfatiza a cientista Katy Milkman, da Universidade da Pensilvânia.

 

Conexão emocional

 

O truque psicológico mais eficaz para desenvolver o hábito de se exercitar também pode ser o mais simples: inscreva-se em alguma coisa, seja uma corrida de 5km daqui a três meses, um torneio de tênis em um ano, ou uma dança com um amigo ao final do ano.

– Quando estamos nos preparando para alguma coisa, isso traz um propósito a cada treino – diz Bryant, acrescentando que o ideal é traçar pequenas metas ao longo do caminho e garantir que elas sejam desafiadoras, mas alcançáveis.

 

Acima de tudo, você deve descobrir o que funciona melhor para você, lembrando que isso pode mudar. O exercício tende a ser mais consistente se houver uma conexão emocional com ele.

– É por isso que algumas pessoas correm maratonas para causas beneficentes ou dedicam cada quilômetro a uma pessoa específica – conclui Grant.

 

Fonte: https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/06/como-enganar-o-cerebro-para-conseguir-render-mais-no-treino.ghtml